Amizades de Infância

Dia desses eu estava jogando pensamento fora, naqueles momentos em que se pensa em nada e ao mesmo tempo em tudo. Do nada, me veio um questionamento: onde estão meus amigos de infância?

Se eu começar a listar meus amigos mais antigos, posso enumerar acho que uns dez com quem eu ainda mantenho contato. Mas isso é tão pouco, manter contato! Amizade pra mim é outra coisa. Eu ainda gosto muito de algumas pessoas, outras me são apenas indiferentes. Mas com nenhum deles eu tenho uma relação estreita. Aliás, eu tive amizades profundíssimas que hoje não passam de cumprimentos na rua e promessas de encontros que sabemos que não vão acontecer.

Aí mais uma indagação: será que eu sou tão chata, tão péssima, que não consegui manter essas amizades, que um dia foram tão presentes e necessárias na minha vida? Mas quando eu começo a pensar nessas pessoas e como elas são hoje, compreendo que a vida trata de separar em grupos aqueles mais semelhantes.

Hoje, essas pessoas deram rumos diferentes às suas vidas e por um motivo ou por outro sinto que tentar fazer uma amizade como um dia foi, seria algo forço, sem naturalidade. Muitos itens nos separam.

Eu tive cinco grandes amizades na minha vida. Cinco pessoas que representaram muito. Vou dar nomes fictícios a elas - Maria, Joana, Cláudia, Ana e Luiz. Pronto.

Com Maria tive a amizade mais duradoura e também a mais frágil. Nós éramos amigas, mas não nos dávamos o mesmo valor. Eu confesso que eu mais fiel à essa amizade que ela. Isso não é uma crítica, pois a opção de me doar mais foi minha. No fim das contas, tanta dedicação terminou da forma mais óbvia: uma briga feia, causada uma por uma terceira que sempre quis me separar de qualquer amizade que não fosse ela - por isso nem vou citá-la aqui. Depois dessa briga, eu e Maria nunca mais conseguimos ter a mesma confiança uma na outra. Um belo dia, ela me deu um golpe certeiro e eu nunca mais quis falar com ela. Esse silêncio durou mais de 4 anos. E dessa vez ganhei um prêmio: eu percebia que ela não se sentia confortável com isso. Aí, certa vez, quase sofremos um acidente juntas e na hora no sufoco, sem querer e sem pensar, agarramos uma na outra rs. Hoje, até que tentamos retomar algo do passado, mas nada com muito sucesso.

No caso de Joana, eu comparo a nossa amizade à luz de uma lâmpada de 110v ligada numa tomada de 220v: forte porém muito rápida. O auge da nossa amizade durou pouco mais de 2 anos. Porém esse tempo foi muito rico. Aprendi muito com ela e acho que ela aprendeu um pouco comigo. Sofremos juntas, muitas vezes. Mas rimos demais. Foi com ela que aos 16 anos eu peguei o carro e fui dirigindo pra outra cidade, sem medir qualquer perigo - inclusive o de haver um guarda rodoviário no meio do nosso caminho rs. Meu pai nem sonha com isso até hoje kkk. E foi comigo - também ao volante e também aos dezesseis anos - que ela seguiu o pai, aos prantos, desconfiada de que ele tinha outra mulher. Um belo dia a gente teve que se separar, ela arranjou novos amigos - de quem eu não gosto muito até hoje rs - eu também. Mas sempre que nos vemos, rimos muito. Essa amizade eu não acho que acabou, mas nunca mais vai ser nem reflexo daquela luz forte que foi um dia.

Com Cláudia foi uma amizade morna, sem grandes lembranças. Ainda hoje somos amigas, porém com muito mais distância. Mas mesmo sem grandes histórias, foi uma pessoa que me ensinou muitas coisas, tanto por suas qualidades e como por seus defeitos.

Ana foi a amizade mais engraçada que eu tive. Ela só me metia em encrencas rs e a gente brigava muito. Das 5 principais amizades, é a única com quem eu tenho um contato mais frequente. Sou uma das madrinhas do filho dela. Mas tivemos um longo espaço na nossa amizade. Anos sem nos encontrar. A vida dela é completamente diferente mas é a única amizade minha que conserva a essência. E olhe: depois de tantos anos, tenho certeza que se passarmos um dia inteiro juntas, ainda rola uma briga.

Luiz foi meu melhor amigo. Único melhor amigo masculino, com quem eu tive muitas diferenças. Mas hoje são poucas coisas em comum, poucas conversas, nada atual. Somente lembranças.

Enfim... minha conclusão é que é feliz quem consegue conservar uma amizade intacta por tantos anos. Mas isso não é pra qualquer um e está cada vez menos existente.

Apesar de tudo o que eu escrevi, ainda conservo amizades antigas, não tão profundas, mas que naquele mínimo de existência, existem da forma mais importante pra mim: da forma verdadeira.


1 comentários:

Antenor Thomé disse...

Engraçado...
Eu nunca tive um grande amigo ou amiga.
Infelizmente eu era considerado aquele cara feio, esquisito, que gostava de estudar e que não era popular.
Ficava sempre sozinho nos intervalos e pouca gente dava bola para o que eu pensava ou fazia.
Com o passar dos anos, o "bobão" aqui foi ganhando reconhecimento e algumas pesosas começaram a se aproximar.
Ai já era tarde demais, a infância tinha passado, a adolescencia estava no fim. Meus interesses mudaram e eu me fechei, não completamente, mas me fechei.
Hoje tenho amigos e amigas, mas não tenho nenhuma grande lembrança com outras pessoas, tive que aprender a ser meu próprio amigo.
Olha me deu vontade de escrever sobre isso no Mural.. em breve escrevo..
Adorei seu texto
Bjos