A coragem vai embora com a idade...

Hoje em dia eu tenho muitos medos... medo de muita coisa. Mas, dia desses, naquele momento antes de dormir em que as pessoas pensam em trocentas coisas, eu lembrei que nem sempre foi assim. Eu já fui destemida, pow - rsss.

Lembrei dum episódio que foi engraçado na época, ainda é hoje (pois conseguimos rir disso), mas que poderia ter virado tragédia. Certa feita, fomos eu e outra amiga passar um domingo num sítio da família duma amiga nossa. Em determinado momento do dia, a nossa anfitriã resolveu nos ciceronear pelo meio do mato kkk e nos levou ao ponto turístico do povoado - uma lagoa. Caminhamos uns minutos até nos depararmos com a lagoa... vazia kkk. Na volta, encontramos uns caipiras muito galanteadores, que resolveram nos pagar, na vendinha, uma coca-cola de 2L. A essa altura estávamos nos sentindo "as espertas" da cidade, que estavam tirando proveito dos pobres rapazes, que fizeram questão de apresentar a entrada de seu sítio e nos oferecer copos de geléia para saboreamos o refri. Pois bem, saboreamos o veneno negro que tanto nos atraia - e atrai até hoje - descobrimos que um dos rapazes que, naquela altura da vida - uns 17 anos - ainda era analfabeto, queria ser "adevogado", fomos crueis com eles - tolices da adolescência - e depois fomos embora. Antes de chegarmos ao sítio de nossa amiga, encontramos o pai dela, que vinha esbaforido, com o semblante que misturava alívio e raiva. Depois de um ''graças a Deus" ele esbravejou com a gente, primeiro pelo fato de termos saído sem avisar; segundo por que saímos caminhando numa estrada de terra, num lugar sem quase nenhuma residência e com fama de ser povoada de... de... (pere que dá frio na espinha de lembrar)... de... es-tu-pra-do-res!!! Pense!

Hoje vejo que de espertas nós não tínhamos era nada. Nós éramos as lebres indefesas cantando de galo no ninho dos gaviões, isso sim!! Kkkkkkk. É cada coisa que a gente faz!

Prefiro ser a covardona de hoje, que a destem... (ops) a burra de ontem!

E quem foi que disse que a opinião dos outros não importa?

Acho que dos bordões, dos ditados, mais hipócritas que muitos enchem a boca pra dizer é 'A opinião dos outros não me importa'. Mas é claro que importa. Não deveria importar, mas importa. Chega um momento x que a opinião dos outros nos importa tanto, que passa ela a ser nossa própria opinião, sem nenhuma reflexão, sem nenhuma análise.

Tava lendo no Twitter um trecho duma reportagem da Veja 'O cantor que a esquerda destruiu' que trata do filme 'Ninguém Sabe o Duro que Dei' que narra a história dos altos e BAIXO na carreira do cantor Wilson Simonal. Vi também outras reportagens na TV anunciando o documentário.

Essa é a história de alguém que a 'opinião dos outros' destruiu. Diferentemente de todos, pelo pouco que puder perceber, Simonal não transformou essa em sua opinião. Mas, talvez tenha feito pior: desistiu de desmascará-la, já que se dizia inocente da acusação de ser informante do DOPs, órgão repressor da ditadura -- quase uma redudância. Acredito que ele tenha lutado muito contra isso, já que reuniu documentos e esbravejou até o dia em que desencarnou. Mas se entregou ao alcoolismo, mostrando que de certa forma se colocava incapaz diante daquela situação, se refugiando no esconderijo que o álcool lhe oferecia.

Não estou aqui dizendo que ele foi um fraco. Jamais. Ninguém sabe, e eu não sei, como é ser aclamado pelo público a ponto de regê-lo em shows e depois se encontrar no mais profundo ostracismo. Na verdade ostracismo não, pois, a partir do momento em que as pessoas te ignoram de propósito, significa que elas não te esqueceram. Acho isso bem pior e cada um reage como pode.

Com isso, penso que a maioria de nós ainda não está pronta para praticar o 'não ligo para a opinião dos outros'. De certa forma todo mundo liga, uns mais, outros menos. Não deveríamos, mas damos à opinião alheia um valor bem maior que aquela que ela merece. Sim, a opinião externa merece valor, já que sem ela não saberíamos identificar nossa própria e assim não saberíamos tomar nossas decisões. E é justamente isso que está faltando.

PS.: Eu acredito no Simonal.

Assalto à velhinha do orelhão e outras peripécias: vamos deixar tudo isso no passado, bora?


Mais um dos meus momento nostalgia da semana: em dias de chuva lembro de uma noite em que eu e uma amiga nos metemos na maior fria – e bote fria nisso. Estávamos participando de um ensaio de quadrilha junina da escola e bateu a maior chuva. Lá pra meados dos anos 90, ninguém da nossa idade tinha um celular e minha mãe tinha marcado com a gente pra dali a uma hora ainda, já que não previmos o fim antecipado do ensaio. Todos foram embora e a chuva aumentava progressivamente, até que em dado momento apenas nós duas estávamos na rua, sem um tostão no bolso e sem a mínima condição de irmos pra casa. Primeira grande ideia que tivemos: fomos pra debaixo de uma árvore. Genial, já que estava relampejando muito. Tivemos um lampejo – sem trocadilho – de juízo e lembramos que aquele deveria ser nosso último refúgio, já que raios, relâmpagos e árvores parecem se gostar. Ficamos protegidas sob um toldo quando visualizamos a nossa esperança: uma velhinha num orelhão. Nosso primeiro pensamento foi: vamos pegar a ficha – sim, ainda se usava fichas nos orelhões, ai ai – da vovó. Então, chegamos solícitas, nos oferecendo pra ajudá-la, mas em vez de discar – sim, o orelhão era a disco – o número indicado pela inocente velhinha, nós discávamos o número da minha casa. Mas Deus, com sua palmatória, não deixou que lesássemos a pobre idosa: o orelhão estava quebrado. Oh Céus. Depois de mais de meia hora de chuva, com pena das criminosas juvenis, Deus mandou uma menina de quem a gente não gostava – vê só o castigo – e ela, meio triunfante e com jeito de “sou superior” – nos ofereceu ajuda, indo à casa da tia, sem nos convidar pra ir junto, claro, para fazer a sonhada ligação com a mãe. Mais de uma década depois, esse assunto ainda nos causa muitos risos.
Como eu disse, é sempre muito bom e até normal sentirmos saudades dessas coisas. Porém, entretanto, todavia, elas estão tão bem onde estão: no passado. Ainda morro de frio só de lembrar da chuvarada. Sem contar no remorso de tentar usurpar a ficha da velhinha haha. Ufa, ainda bem que essas coisas não voltam mais.